29.10.06

QUADRINHO: Mota, o neoliberal!

O VOTO E O ANALFABETO...
por Rogério Beier


Conversa sobre política no meio do expediente com Mota, o neoliberal.

- A culpa desse governo corrupto que aí está é desses malditos analfabetos, que trocam o voto por cesta-básica ou por promessas de bolsa-família, fome-zero e afins.

- Mas Mota, o Lula ganhou com mais de 50 milhões de votos. Não foram só os analfabetos que votaram nele.

- Não interessa, no Brasil só deveria ter direito a voto quem tivesse concluído, no mínimo, o segundo grau.

- Ô loco, Mota! Mas isso não seria democracia.

- E quem disse que a democracia vale para os analfabetos?

- Ah! Entendi. Então a democracia só é válida quando favorece os seus desejos, anseios e interesses.

- Não é isso! É que esses analfabetos não são capazes de escolherem representantes para todo o Brasil. Não podemos depender dos votos deles para decidirmos o que é o melhor para o país. E tenho dito!

POEMA: Palavra

PALAVRA
por Rogério Beier


Sem palavras,
O mundo não existe.
Mas com elas,
Ganha formas, atributos e significados infinitos.
Azul, bonito, injusto, cruel...
Outro dia o mundo era uma bola de futebol
num desses comerciais de TV.
A palavra define o mundo.
A palavra é tudo e tudo é palavra.

Como parte do tudo
Também sou palavra
E assim sendo, posso ser qualquer coisa,
Mas Não coisa qualquer.
Cuidado!

O Aurélio diz que posso ser de Asno à Zoólogo
Mas quem é o Aurélio para dizer quem sou?
Ele nem me conhece!
Nem Asno, nem zoólogo.
Sou apenas eu. Indefinível.

Mas se o Aurélio não pode definir quem sou eu.
Então quem pode?
Será que há palavras que encerram todo o meu ser?
Se eu puder escolher uma,
Quero ser uma proparoxítona.
Elas são raras, as danadas.
De tão raras, gramáticos decidiram que todas devem levar acento:
Único, último, fantástico, parapsicólogo...
Não é bacana???
Ainda assim, nem mesmo elas podem me definir completa e permanentemente.

Mas também, que mania boba essa de querer definir tudo.
Não posso ser indefinível?
Tenho que ser escravo das palavras
E viver preso à elas para sempre?
(...)
(...)
O pior é que tenho.
O mundo todo tem.
Somos reféns das palavras.
Sem elas, voltamos ao princípio.
E "NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."
O que dizer mais?
Estou sem palavras!

EDITORIAL: A Trialética

[1]
[2]

No princípio, antes mesmo daquela grande explosão e dos dinossauros, existiam três fundamentos fundamentais a saber:

1) Sempre existe um idiota [3];
2) Nunca dá tudo certo;
3) O cinismo resolve tudo [4].

Como esses fundamentos são, necessariamente, auto-geradores - moto-contínuo - eles se tornam as três dialéticas da humanidade.

DIALÉTICA [5]

Um conceito inteiramente certo, por ser impossível de ser provado inteiramente errado. Usa-se quando se quer parecer inteligente, ou seja, idiota, ou seja, nunca dá tudo certo, ou seja, cinismo sempre resolve, ou seja, infinitamente.Chegamos então a:

TRIALÉTICA

a. Supera a dialética por ser infinito.
b. Logo, Trialética é o todo.
c. A unidade é a Trialética.

NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Se você não entender nada, sussa, dá tudo exatamente na mesma.
[2] Como foi formulada por bons historiadores, o texto da Trialética já se inicia com notas de rodapés.
[3] Se você não reconhece nenhum idiota, perigas de o idiota ser você. Mas não se preocupe, isso não exclui a possibilidade de infinitos idiotas.
[4] Se não der certo (afinal, nunca dá tudo certo) tente usar a verdade, apesar desse negócio de Verdade ser de um cinismo absoluto.
[5] Decidimos conceitualizar as idéias aqui utilizadas para que os filósofos não acusem injustamente os historiadores de não terem conceitos.